No início, a ideia de correr parecia mais um compromisso para abandonar. Coloquei o tênis com certa desconfiança, mas logo os primeiros passos na calçada me surpreenderam. O som ritmado dos pés batendo no chão, o ar fresco entrando e saindo dos pulmões, o mundo ao redor desfocando enquanto eu me movia – tudo isso trouxe uma sensação de ordem que eu raramente experimentava. Para quem vive com TDAH, esses momentos de clareza são como ouro, e a corrida de rua começou a me oferecer isso de forma consistente.

Não é só sobre o corpo em movimento. Estudos e relatos apontam que atividades aeróbicas, como correr, aumentam os níveis de dopamina e noradrenalina no cérebro – neurotransmissores que, em adultos com TDAH, costumam estar desregulados. Na prática, isso significa que, depois de uma corrida, eu conseguia sentar e planejar meu dia sem que minha cabeça parecesse um liquidificador ligado no máximo. Aquele turbilhão de ideias, que antes me paralisava, dava lugar a uma calma produtiva.

Claro, nem todo dia é perfeito. Às vezes, a hiperatividade me faz querer correr mais rápido do que meu corpo aguenta, ou a impulsividade me leva a ignorar o aquecimento – e aí vêm as dores no dia seguinte. Mas até esses pequenos tropeços ensinam algo. A corrida de rua me deu uma rotina, algo que eu nunca achei que poderia sustentar. É como se, ao alinhar o ritmo dos passos, eu também alinhasse o ritmo da minha mente.

Para quem lê isso e pensa “mas eu não sou de correr”, vale dizer: não precisa ser um maratonista. Comecei com poucos minutos, caminhando mais do que correndo, e aos poucos o hábito se formou. O segredo está em encontrar prazer no processo – seja na playlist que embala os passos, no nascer do sol que colore o caminho ou na satisfação de cruzar uma linha imaginária de chegada. Para adultos com TDAH, a corrida de rua não é só exercício; é uma forma de reconectar corpo e mente, um passo de cada vez.

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Se você já sentiu que sua cabeça não para, que tal calçar um tênis e experimentar? A rua está aí, esperando, e talvez, como aconteceu comigo, você descubra que correr é mais do que se mexer – é uma maneira de se encontrar.

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