Arrastão do frevo marca encerramento do carnaval no Recife.
As ruas históricas do Recife foram fieis à diversidade cultural do estado e de seu carnaval nessa terça-feira (9). A despedida da folia juntou famílias – de idosos a crianças de todas as idades – e associações carnavalescas de tradições diferentes, além de ritmos menos ouvidos nessa época, como o rock e o hip-hop. Foram mais de 12 horas de festa, no último dia da programação carnavalesca da capital, que terminou ao amanhecer com o arrastão do frevo – momento que une povo e artistas em um último cortejo pelo Recife Antigo.
Desde as 16h, quem passou por lá pôde encontrar caboclos de lança do maracatu, com seus chapéus enormes e chocalhos, passeando depois de uma apresentação. Enquanto isso, caboclinhos mirins se apressavam para chegar ao Marco Zero para a apresentação das escolas campeãs do concurso de agremiações. Eles apertavam o passo em meio a senhoras vestidas com saias armadas de chita e turbantes na cabeça. Ainda se encontravam os bonecos gigantes e os palhaços da cidade vindos de Olinda.
O amor dos pernambucanos pelo frevo e pelo carnaval pode ser encontrado a cada esquina, em bandeiras ou em declarações. “Eu já estou me articulando para o próximo ano. É uma terapia, depois desse período de carnaval que a gente passa curtindo, você se renova 10 anos, você sai novinha daqui”, elogia a funcionária pública pernambucana Graça Lima, de 65 anos e mais de 30 no carnaval do Recife.
Agremiações
Durante a tarde de ontem, as agremiações campeãs desfilaram no palco do Marco Zero. Foram 11 modalidades e 262 grupos inscritos. Vários grupos do bairro de Água Fria, no Recife, estavam entre os selecionados. Foi o caso do Urso Cangaçá de Água Fria, que veio com clima circense para homenagear a trabalhadora do circo Índia Morena, do município de Jaboatão dos Guararapes.
Há 10 anos, o Urso é campeão. A presidenta da agremiação, Maria Cristina de Andrade, de 68 anos, relata que as vitórias têm ajudado a atrair novas gerações para o grupo. Este ano, várias crianças se apresentaram. “Foi um ano triste para nós, perdemos um sobrinho. Mas isso nos ajuda. Significa muito”, conta Cristina emocionada.
Quem ganha leva um prêmio em dinheiro, o que também ajuda a financiar a brincadeira desses grupos. Mas, de acordo com Valmir Carneiro Gondim, de 49 anos, presidente da Troça Carnavalesca Mista Matutas de Água Fria, o mais importante é testemunhar o envolvimento da comunidade com o grupo. “O pessoal veio em peso assistir, e nós fazemos a troça com doações de pessoas do bairro. Fazemos evento todo mês, brincamos o ano todo, mas sem essa competição não seria a mesma coisa. E todo mundo participa para dar certo”, explica.
O encerramento do carnaval no Recife teve muito frevo, como tradicionalmente se acaba a festa na cidade, e também com um ícone do carnaval e do estado de Pernambuco: Alceu Valença vai se apresentar em casa, seguido de Elba Ramalho. Às 5h, está programado o arrastão do frevo, logo depois do orquestrão, regido pelo maestro Spok.
Brigas e trabalho infantil
Se para várias crianças o dia foi de festa e brincadeira, para outras foi de trabalho pesado. Não era difícil encontrar meninos e meninas vendendo cerveja ou catando latinhas no carnaval. Brigas também foram relatadas por foliões. “Ontem teve muita confusão, estava muito cheio e veio gente só para isso”, conta o aposentado Jaziel Bezerra, de 66 anos. A prima dele Jô Correia, de 45 anos, completa: “A questão da segurança sempre precisa ser aprimorada, mas se consegue brincar estando atento”. Os números de ocorrências e prisões ainda não foram divulgados pelas forças policiais de Pernambuco.
Olinda
Nessa terça-feira, em Olinda, o povo também se despediu do carnaval nos blocos de rua que percorrem a região histórica da cidade. Uma das atrações foi o encontro de bonecos gigantes de Olinda. Cerca de 100 deles marcaram participaram, todos balançando ao som do frevo.
Para quem ainda tem o dia de hoje (10) – a Quarta-Feira de Cinzas – de folga, a folia ainda se prolonga nos blocos formados por trabalhadores do carnaval: no início da manhã, o Bacalhau do Batata reúne os garçons que atenderam aos foliões no período. Já o Bloco do Case, que sai meio-dia, foi criado por músicos que também trabalham nas festividades.
Manifestações culturais tradicionais de Pernambuco ainda animam os moradores em Olinda, seja no encontro de bois ou no de afoxés, que começam à tarde e seguem pela noite.
Fonte: Agência Brasil.
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