Banco Central decidiu subir novamente os juros pela 4ª vez seguida.
Ao fim do encontro, o BC divulgou a seguinte frase: "avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic em 0,50 p.p., para 12,75% a.a., sem viés".
Cenário econômico - O novo aumento dos juros básicos da economia acontece em um momento complicado, com a economia ainda se ressentindo de um baixo nível de atividade, mas com a inflação fortemente pressionada pelo aumento de tarifas públicas, como energia elétrica e gasolina, e também pela disparada do dólar – que nesta quarta fechou em R$ 2,98, o maior patamar desde 1998.
De acordo com o professor de economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Pedro Raffy Vartanian, o cenário atual é um dos mais desafiadores para a política econômica, pois combina ausência de crescimento com inflação em alta, que os economistas chamam de “estagflação”. A alta do dólar pressiona os preços, pois os produtos e insumos importados ficam mais caros. Além disso, a inflação também sofre os efeitos dos reajustes dos chamados "preços administrados" (como telefonia, água, energia, combustíveis e tarifas de ônibus, entre outros). Para a energia elétrica, o reajuste pode superar 40% neste ano. “A depreciação do real acelerou-se desde a última reunião [do Copom em janeiro]. Além disso, o Banco Central pode reduzir sua intervenção no mercado de câmbio acelerando este processo. Outra razão para o aumento da Selic é que o BC deve combater os efeitos secundários dos choques de preços de hortifrutigranjeiros, bem como do aumento de combustíveis e energia elétrica”, avaliou o professor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV/EESP), Clemens Nunes.
Metas de inflação - Pelo sistema de metas de inflação vigente na economia brasileira, o BC tem de calibrar os juros para atingir objetivos pré-determinados. Para 2015 e 2016, a meta central de inflação é de 4,5%, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que serve de referência, pode oscilar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. Nos últimos cinco anos, porém, a inflação ficou bem distante da meta central de 4,5%, e mais próxima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro. Em 2010, 2011, 2012, 2013 e 2014, respectivamente, a inflação somou 5,91%, 6,50%, 5,84%, 5,91% e 6,41%.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, informou, no fim do ano passado, que a inflação deve retomar a trajetória de convergência para a meta central "ao longo de 2015". Segundo ele, o "horizonte de convergência" com o qual o BC trabalha "se estende até o final de 2016". O objetivo do BC, portanto, é entregar a inflação na meta central de 4,5% somente no ano que vem. Antes de retomar a trajetória de convergência para a meta durante 2015, a inflação acumulada em 12 meses tende a "permanecer elevada", informou ele em dezembro. O mercado financeiro, porém, segue incrédulo. De acordo com estimativas coletadas pelo próprio Banco Central na semana passada, com mais de 100 instituições financeiras, a inflação deve somar 7,47% neste ano (bem acima do teto de 6,5% do sistema de metas brasileiro), 5,5% em 2016, 5,2% em 2017 e 5% em 2018 – não atingindo, portanto, a meta central de 4,5% até o fim do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Ajuste nas contas públicas - Os analistas avaliam que, embora as medidas econômicas anunciadas recentemente pelo governo sejam importantes para reequilibrar as contas públicas (após déficit inédito em 2014) e possibilitar um cenário de controle da inflação no futuro, com taxas de juros mais baixas, elas terão impacto de reduzir ainda mais o nível de atividade neste ano. Entre as medidas anunciadas, estão aumento dos tributos sobre a gasolina e o diesel, sobre operações de crédito, cosméticos, automóveis e sobre a folha de pagamentos, além de limitação de benefícios sociais, como seguro-desemprego e abono salarial, e redução de gastos de custeio e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com a Conta de Desenvolvimento Energético – o que resultará em um alta maior da energia elétrica. O economista da NGO Corretora, Sidnei Moura Nehme, avaliou que o quadro econômico é "extremamente complexo". Em sua visão, não é possível concluir, até o momento, que as medidas possam "efetivamente ser contributivas à recuperação do país, já que os efeitos colaterais podem causar mais inflação, desemprego, perda de renda e consumo, conduzindo o país à recessão".
Curta o M.V no Facebook e Siga no Twitter.
Clique Aqui e Leia Mais Notícias.
Fonte: G1