"Fantástico": Deputado do PR ensina a comprar votos e difamar adversários.

Deputado do Partido da República ensina como se disputa uma eleição comprando votos e espalhando boatos sobre os concorrentes. A informação foi divulgada com exclusividade neste domingo, 21, no Fantástico, da TV Globo. 
(Deputado nega que ensina a comprar votos e difamar adversários - Fantástico/TV Globo)
O deputado federal Aelton Freitas, do PR de Minas Gerais, foi senador no lugar de José Alencar, que deixou o Senado para assumir a vice-presidência da República, em 2003. O Fantástico exibiu um vídeo em que o parlamentar aparece com o prefeito da cidade, Carlos Roberto Custódio, conhecido como Carlito, o candidato a prefeito, Donizete do Escritório, e o candidato a vice, Adriano do Gás. Também estão na mesa as mulheres deles e um assessor  do deputado. “Eu tenho uma teoria que eu digo que problema de companheiro meu é problema meu. Acho que política é isso. O verdadeiro líder, muitas vezes, é aquele que não faz questão de aparecer”, diz Aelton no vídeo.


De acordo com a reportagem, o grupo está reunido para receber ensinamentos políticos de Aelton Freitas sobre como uma fazer campanha eleitoral. Primeiro ele ensina como comprar votos. A técnica do ‘cartãozinho’: “Nós vamos fazer 200 cartõezinhos para prefeito. Não quer dizer nada, 200 cartõezinhos. E nós vamos pegar 20 amigos nossos confiáveis. Quem é da confiança? Vinte. Então você vai ter dez, você vai ter dez, você vai ter dez. Você vai buscar dez companheiros seus lá e que não estão votando no Donizete”. E quanto vale o voto de um eleitor? Segundo Aelton: “Esse cartãozinho vale R$ 100. O cara não vai votar em você. Vai votar nos R$ 100 que o cartãozinho que está no bolso dele vale. E outra: só vão pagar se tiver sido eleito”.
(Reprodução/Fantástico)
E continua ... Lição número 2: como espalhar boatos contra o adversário. É preciso convocar o esquadrão da fofoca: “Vamos buscar três, quatro pessoas dentro do nosso grupo que saiba incomodar o Daniel”, ensina no vídeo. Daniel Bertholdi era um dos candidatos a prefeito de Capetinga, adversário de Donizete do Escritório.“Três ou quatro pessoas que possam estar em boteco ou em ponta de rua soltando boato e fofoca. Porque o Daniel tem que desmentir e perder tempo naquilo. Não você. A cúpula da campanha, que está por cima, nem conhece. Baixa o retrovisor e esquece que tem concorrente. Vocês estão indo em uma viagem ao futuro de Capetinga, pronto”, diz. Depois dessas lições, Aelton explica como retribui a votação recebida: ele usa a verba das chamadas emendas parlamentares para favorecer os municípios onde obteve mais votos: “Um parlamentar tem 12 milhões de emenda por ano. Eu procuro distribuir essas emendas proporcionais aos votos que eu tenho. Eu preciso de 100 mil votos e tenho 12 milhões, eu divido 12 milhões por 100 mil votos. Significa dizer que, a cada mil votos que eu tenho em uma cidade, aquela cidade tem 120 mil meu por ano. Está certo?”.
(Reprodução/Fantástico)
Capetinga tem pouco mais de 7 mil habitantes e mais de 6.100 eleitores. As eleições de 2012 tiveram quase 5 mil votos válidos. Lá, o eleitor se queixa de abandono das autoridades. “Não tem transporte aqui, uma pobreza lascada”, reclama o pedreiro Antönio Flavio Terra. “Não tem médico, o posto ficou fechado 15 dias. O posto aqui não funciona sábado e domingo”, conta a aposentada Regina Rodrigues da Silva.

O deputado federal Aelton Freitas disse que tudo não passou de brincadeira. “Fiz alguma brincadeira, que eu sou muito de contar piada em reuniões, depois pedi desculpas no final da reunião pelo que eu tinha falado e pelas brincadeiras de mau gosto, me despedi e fui embora. Porque, quando é brincadeira, pode fazer de mau gosto, igual quando você brinca, às vezes, com a raça, com a cor de uma pessoa, você conta uma piada pesada, aquilo pode se tornar um processo”.

A pena pra quem compra votos pode chegar a quatro anos de prisão, mais multa. Já os crimes de calúnia, difamação ou injúria podem dar de 3 meses a 2 anos de prisão e também multa.

Segundo Arnaldo Versiani, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral, o vídeo por si só não prova que qualquer crime tenha sido cometido. “Isso a meu ver não está caracterizado. O que há, de certa maneira, é uma incitação a práticas criminosas, como por exemplo, fazer com que eventuais adversários passem a se preocupar com desmentir boatos e, com isso, tentar conturbar o processo eleitoral”, explica o ex-ministro.

“Ele está induzindo os candidatos a vereador ou a prefeito a cometerem uma ilegalidade. Então, na minha forma de ver, eu entendo que ele já se enquadraria para ir para a Comissão de Ética da Câmara”, avalia Ricardo Caldas, professor do Instituto de Ciência Política da UNB.

“Ele usa o critério de onde ele  tem votos e onde ele quer ter mais votos. Quer dizer: o interesse público muitas vezes pode passar ao largo”, diz  Gil Castelo Branco, secretário geral da ONG Contas Abertas.



A Câmara e o Senado estão em recesso. Uma cópia do vídeo foi entregue anonimamente ao Ministério Público em Minas, que enviou o material para a Procuradoria Geral da República. “O eleitor está desiludido com político. A nossa moral está lá embaixo”, destaca Aelton em um trecho do vídeo. (*) As informações são do Fantástico. O vídeo pode ser visto (aqui).

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