Governo do Rio deve enfrentar ação judicial por violência na desocupação do Museu do Índio.
RIO DE JANEIRO - Nesta sexta-feira, 22 de março, as defensorias públicas do Estado e da União, o Ministério Público da União e parlamentares que participaram da negociação de saída dos ocupantes do antigo Museu do Índio, na zona norte do Rio, anunciaram que vão entrar com medidas legais contra o governo fluminense por abuso de poder e violência.
[Foto: Tânia Rêgo/ABr] |
De acordo com depoimentos à Agência Brasil, autoridades públicas, índios e simpatizantes da causa foram agredidos durante a operação policial. O defensor público federal Daniel Macedo disse que foi pego de surpresa pela tropa de choque, “que saiu atirando para cima e jogando gás de pimenta de maneira indiscriminada”.
O defensor adiantou a estratégia jurídica do processo. “Primeiramente, entraremos com provas documentais para apurar as responsabilidades,” informou. “Sem necessidade, atiraram em mim, o gás de pimenta acertou no procurador, nos defensores, não faz sentido isso, a negociação era frutífera”, denunciou Macedo.
[Foto: Tânia Rêgo/ABr] |
O deputado estadual Marcelo Freixo saiu com os olhos vermelhos e lacrimejantes de dentro do museu. Ele classificou a atitude da Polícia Militar como inadmissível. “A polícia agiu com enorme truculência e desrespeito com quem está aqui trabalhando. Não estou aqui desde as 4h da manhã ajudando nas negociações para tomar spray de pimenta na cara, para ser insultado. A polícia precisa acabar com essa tradição de violência”.
Freixo lembrou que a decisão judicial determinava que o prédio fosse desocupado sem violência. Além disso, a desocupação estava ocorrendo e as crianças e mulheres já estavam nas vans da Secretaria Estadual de Assistência Social. “Estávamos a um detalhe de conseguir com extremo sucesso o que determina a medida judicial”.
Enquanto, do lado de dentro, os últimos índios e apoiadores eram retirados à força por policiais, do lado de fora, bombas de efeito moral e gás de pimenta foram usados contra os manifestantes que haviam obstruído a principal via da região.
A imprensa também foi atingida e alguns repórteres passaram mal com o gás. O fotógrafo de O Globo, Pablo Jacob, foi ferido por uma bomba de efeito moral na perna e teve a calça queimada. Alguns militares reagiram com força física aos insultos de manifestantes.
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O porta-voz da Polícia Militar, o coronel Frederico Caldas, negou que tenha havido truculência na operação policial, e argumentou que o uso da força foi feito para evitar um incêndio dentro do prédio. “Os índios saíram e os que ficaram lá alegaram que estavam fazendo uma resistência cultural. Um discurso ideologizado e político. Percebemos claramente que não haveria mais negociação, principalmente quando eles colocaram fogo no prédio”, declarou.
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O porta-voz da Polícia Militar, o coronel Frederico Caldas, negou que tenha havido truculência na operação policial, e argumentou que o uso da força foi feito para evitar um incêndio dentro do prédio. “Os índios saíram e os que ficaram lá alegaram que estavam fazendo uma resistência cultural. Um discurso ideologizado e político. Percebemos claramente que não haveria mais negociação, principalmente quando eles colocaram fogo no prédio”, declarou.
O coronel disse também que houve a utilização de força necessária para desobstruir as ruas, fechadas, segundo ele, por um “bando de agitadores”. Alguns manifestantes foram presos, mas o coronel não soube informar o número de detidos.
O índio Kaiah, da etnia Waiwai, no Pará, estava dentro da propriedade quando a Tropa de Choque da Polícia Militar entrou. “A gente estava batendo o maracá, fazendo um canto de despedida da Aldeia Maracanã. Foi quando a polícia entrou dando tiro para cima, usando spray de pimenta, a gente já ia sair, era o último canto, para sairmos sentindo os espíritos que existem aqui dentro”.
A Avenida Radial Oeste ficou interditada durante cerca de uma hora. O edifício, antes ocupado por cerca de 30 pessoas, agora está sob a guarda do 4º Batalhão, por tempo indeterminado. Alguns índios foram enviados para o Hotel Acolhedor Santana 2, no Centro.
Segundo a Secretaria Estadual de Assistência Social, está prevista uma visita dos índios a três locais de moradia temporária: Jacarepaguá, Bonsucesso e Visconde de Niterói. Pela proposta do governo do estado, os índios podem decidir pelo recebimento do benefício do aluguel social, no valor de R$ 400, ou podem voltar para a aldeia de origem, com ajuda para o transporte.
Obrigado por sua visita, volte sempre.
Momento Verdadeiro | Fonte: Agência Brasil de Notícias