O apagão inesperado que atingiu 7 capitais nordestinas em noite de céu límpido.

O jornalista Vitor Hugo Soares, editor do site/blog Bahia em Pauta, descreveu assim o "Apagão" que atingiu sete capitais do Nordeste.
Reprodução -
Seis minutos da sexta-feira, 04, na Bahia. Um "apagão" inesperado da luz elétrica em noite de céu límpido e sem tempestades, deixa Salvador e mais sete capitais nordestinas nas trevas do breu. É o "Cão do Terceiro Livro que se prepara para fazer das suas" - como dizia um querido colega da UFBA. Além de atrapalhar o cochilo da presidenta Dilma Rousseff, em Brasília, neste sonífero começo de governo, e dar calafrios e pesadelos no ministro Lobão, das Minas e Energia.
Começa assim a "madrugada de cão" da Bahia ao Ceará, passando pela capital federal. Mas, a alegre temporada de verão em curso - até no governo e na política - nem de longe indicava que o diabo iria se soltar dali a minutos, como se verá no correr destas linhas.
Na pista do aeroporto , o avião com Jaques Wagner (PT) a bordo, se preparava para levantar voo com destino à Europa, onde neste sábado, em Paris, "a Bahia será homenageada pela Federação Internacional de Judô (FIJ) por ter sido escolhida como sede do Campeonato Mundial de Judô por Equipes em 2012". O governador do Estado decidiu ir pessoalmente receber a honraria.
Vale lembrar, por factual e oportuno, que a notícia da escuridão no Nordeste chegou ontem a outro governador da região sob trevas, Cid Gomes (PSB), do Ceará, quando este já pousara há dias em solo europeu, em "viagem de observações e contatos". Mas não percamos de vista as lambanças do diabo na madrugada de sexta-feira.
No Centro de Exposições de Salvador, bem nas proximidades do aeroporto, o apagão desnudou outro oceano de contraste na terra onde "todo absurdo, por maior que seja, tem precedentes", segundo garantia, há tempos, o sempre lembrado governador Octávio Mangabeira.
A escuridão quase completa e suas conhecidas - mas nunca evitadas consequências -, se abateram sobre a capital e o interior, quando a multidão aguardava o começo do show da estrela Ivete Sangalo, principal e mais aguardada atração da noite no Festival de Verão de Salvador. Megaevento musical "marcado pela mistura", segundo anuncia a propaganda dos organizadores da festa que virou marco do calendário baiano e nacional do verão, ponto de encontro do público com suas "celebridades".
Um mar de tranquilidade (garantida por mais de 700 agentes mobilizados das polícias Civil e Militar e número não sabido de seguranças particulares) na Salvador inquieta com os índices crescentes de violência e o tráfego de veículos cada dia mais caótico e estressante.
A apresentação de Ivete atrasa por mais de uma hora. A luz não volta, mas a festa é garantida pelos geradores disponíveis no evento milionário. Ali, tudo é um aparente paraiso na terra. Ou mar de tranquilidade, prazer, alegria... E indiferença com o que acontece fora dos cercados da festança.
O público e as celebridades, misturados com políticos, administradores e homens de negócios e de comunicação, se esbaldam. Como na festa da Gávea na apresentação de Ronaldinho Gaúcho à torcida do Flamengo, há poucos dias, enquanto ali bem próximo se ouvia os gritos de desespero e pedidos de socorro, na maior "tragédia natural" da história do Rio.
As explicações oficiais são as de sempre - em apagões como nas inundações. Pipocam aqui e além. No caso de ontem, temos o arrazoado da direção da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), em nota lavrada no linguajar típico dos comunicólogos de plantão quando se misturam com os tecnocratas da vez no poder.
De prático mesmo, só uma suspeita no lugar da informação verdadeira esperada. A de que tudo pode ter começado com um problema na subestação Luiz Gonzaga, da Chesf, em Pernambuco, a que se teria seguido "a participação da mão humana", como disse o ministro. E a partir daí, falhas de operações em cascata, que derrubaram praticamente todo o sistema de abastecimento de energia do Nordeste. Em síntese: coisas que mais confundem do que explicam, a exemplo da entrevista coletiva desta sexta-feira do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão.
O ministro não conseguiu explicar por que um problema tão previsível, - e que deveria ter sido isolado de imediato como medida preventiva para "não contaminar o resto do sistema Chesf"-, como afirmou o senador petista baiano, Walter Pinheiro, que entende do assunto e falou o que pensa na Radio Band News. Papel crítico que deveria ter sido exercido por algum representante da oposição. Estes, provavelmente dormiam a sono solto.
Agora o bode com figura de diabo está solto. O governo seguramente fará tudo para deter o bicho, até para impedir que mais dúvidas sobre a real confiabilidade do sistema elétrico nacional se propaguem. Lobão afirmou que a presidenta Dilma Rousseff foi avisada por ele do desastre durante a madrugada. Dilma disse que soube de tudo pela Internet, e mobilizou Lobão, a quem cobrou providências e informações confiáveis. Pelo estresse do ministro na coletiva é mais que provável que a presidenta não tenha dormido mais, nem deixado ninguém do governo dormir, depois da má notícia procedente da região que mais deu votos para a eleição da sucessora de Lula, primeira mulher a governar o Brasil.
Nem é preciso apurar o olfato para sentir que há forte cheiro de enxofre no ar. A conferir.
Fonte: TerraMagazine

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