Dengue: Pesquisadores brasileiros desenvolvem “Kit diagnóstico”

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De 1º de janeiro a 13 de fevereiro de 2010, houve 108.640 registros de dengue no Brasil, um aumento de 109% em relação ao mesmo período de 2009. Cinco estados – Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre, Rondônia e Goiás – concentram 71% das ocorrências e já estão com alta incidência, ou seja, mais de 300 casos por 100 mil habitantes, de acordo com o boletim epidemiológico parcial do Ministério da Saúde (MS), divulgado em 1º de março.

A dengue pode ser considerada uma doença endêmica no Brasil, com eventuais picos epidêmicos, já se tornou questão de saúde pública. Em busca de novos alvos para o controle da doença, Ronaldo Mohana-Borges, Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, coordena pesquisa, desenvolvida no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ), que investiga as estruturas moleculares do vírus da dengue.

O objetivo geral do projeto é mapear as estruturas virais a fim de entender o mecanismo da infecção e identificar interações entre vírus e célula hospedeira.

- Com esses dados, podemos produzir compostos inibidores para conter a evolução da doença, bem como avançar nas pesquisas que buscam desenvolver vacinas - diz Mohana-Borges.

O estudo compreende dois trabalhos de pós-doutorado e um de mestrado, e conta com a colaboração dos professores da UFRJ Amilcar Tanuri do Instituto de Biologia, Andrea Da Poian do Instituto de Bioquímica Médica, Paulo Mascarello Bisch do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho e do professor da UFF Vitor Francisco Ferreira do Instituo de Química.

- Temos conseguido resultados animadores no mapeamento das estruturas moleculares do vírus da dengue. E já estamos em fase de comprovação do kit de diagnóstico que desenvolvemos - complementa.

A dengue é uma doença aguda, de rápida evolução, causada por vírus, que ainda não tem vacina. É mais comum em regiões tropicais e subtropicais, devido às altas temperaturas e o grande volume de chuvas, condições ideais para a reprodução do mosquito Aedes aegypit, principal transmissor da doença.

- Enquanto não for desenvolvida vacina contra dengue, a melhor profilaxia ainda é o controle do inseto - diz Mohana-Borges.

O pesquisador conta que existem, no mundo, quatro sorotipos do vírus da dengue e cada um causa um tipo de dengue (DEN) – tipo 1 (DEN1), tipo 2 (DEN2), tipo 3 (DEN3) e tipo 4 (DEN4). O grande problema é que a infecção com uma delas só confere imunidade à própria, ou seja, não imuniza o paciente para as demais. Pelo contrário, quando há contágio com um segundo tipo de dengue, diferente do primeiro, parece aumentar as chances de a doença progredir para formas mais graves, como a dengue hemorrágica.

- Essa é a dificuldade de se produzir uma vacina eficiente, pois a imunização contra vírus já é uma tarefa árdua, ainda mais no caso da dengue, que precisa ser contra os quatro sorotipos do vírus ao mesmo tempo - explica.
Sabendo disso, o Boletim do MS alerta para o alto risco de se instalar uma epidemia de dengue este ano, pois além da proliferação do mosquito se intensificar com as chuvas do mês de março, a DEN1, erradicada há 15 anos, voltou a circular no Brasil. Logo, todas as pessoas que tiveram qualquer tipo de dengue nesse período estão expostas a novas infecções.

Segundo o professor, a estrutura do vírus da dengue é bem simples; consiste numa fita simples de RNA (material genético) envolta por uma membrana lipoprotéica. Contudo, seu funcionamento é extremamente complexo. Resumidamente, a infecção ocorre quando a membrana do vírus se funde à membrana da célula hospedeira e incorpora seu material genético. Quando isso ocorre, a maquinaria da célula hospedeira passa a produzir proteínas virais, como as proteínas não-estruturais NS3 e NS5, envolvidas na produção e montagem de novos vírus, aumentando a carga viral e desencadeando os sintomas da doença.

Em todos os estágios da infecção, há intensa comunicação entre vírus e célula hospedeira e é justamente isso que o grupo de pesquisa, coordenado por Mohana-Borges, tenta desvendar.

- Temos várias frentes de estudos que visam saber exatamente quais são as moléculas-chave na fusão das membranas e na interação entre vírus e célula hospedeira - diz o coordenador.

Um dos braços do estudo busca revelar características moleculares das proteínas estruturais do vírus da dengue, proteína C e glicoproteína E. Para o pesquisador, as propriedades físico-químicas e a forma tridimensional dessas proteínas são fundamentais para o processo infeccioso e os resultados preliminares da pesquisa confirmam sua teoria.

- Publicamos um artigo no Journal of Molecular Biology descrevendo que a fusão entre as membranas depende da integridade do aminoácido triptofano, presente na glicoproteína E que forma a membrana viral. Isso porque, apesar de ser bioquimicamente diferente, esse aminoácido apresenta propriedades moleculares semelhantes à bicamada lipídica da membrana das células humanas e, assim, consegue se inserir nela. Com essas informações, podemos pensar em produzir drogas que consigam bloquear esta inserção e, portanto, inibir a entrada do vírus na célula hospedeira - complementa.

Outra vertente da pesquisa, tema do trabalho de pós-doutorado de Emiliana Mandarano da Silva, focaliza o mapeamento das interações entre as proteínas virais e as proteínas da célula hospedeira.

- Já identificamos, aproximadamente, 30 proteínas expressas nas células do fígado – órgão sólido mais afetado pela dengue – que interagem com a proteína viral NS3 e estamos fazendo o mesmo para NS1, outra proteína viral - conta o coordenador.
Os resultados obtidos até agora dão subsídios suficientes para avançar nas pesquisas que buscam produzir compostos inibidores das moléculas-chave da infecção pelo vírus da dengue. E, segundo Mohana-Borges, isso já está sendo feito no trabalho de pós-doutorado de Emmerson Corrêa B. da Costa, em conjunto com o professor Amilcar.

- Já temos centenas de compostos inibidores sendo testados. Alguns deles já se mostram eficazes para a inibição de enzimas vitais do vírus da dengue, como por exemplo, uma droga que inibe a proteína NS3, essencial para a produção de novos vírus - conta o pesquisador.

Edição: Washington Luiz / Fonte:AE-RJ

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