Lula menos popular, porém capaz de transferir votos
A última pesquisa Sensus-CNT, mostra que, apesar de registrar impactos da crise sobre a popularidade do governo Lula e do próprio presidente, não deixa de ser surpreendente. Houve uma queda de 10 pontos percentuais na avaliação do governo, de janeiro até março - passou de 72,5% para 62,4%; e de oito pontos percentuais no desempenho de Lula, que caiu de 84% para 72,6%. Ainda assim, no auge da percepção da gravidade da crise pelos entrevistados - 54,5% dos ouvidos avaliaram que piorou a situação do emprego, contra 38,5% em janeiro; 44,8% têm medo de perder o emprego e 32,6% consideram que caiu a renda mensal em função da crise - um presidente manter uma aprovação de mais de dois terços dos ouvidos, no sexto ano de governo, é coisa bastante rara.
O dado de transferência é um elemento novo nessa eleição, e causa espécie que ele não tenha se extinguido nas pesquisas, no momento de retração da atividade econômica. Mas ainda muitas coisas devem acontecer, que vão puxar efetivamente a balança para um lado ou para outro. A candidatura de Ciro Gomes (PSB) é uma das peças que parece entrar no jogo de quebra-cabeças eleitoral, e não necessariamente contra a candidata de Lula. Segundo o Valor de ontem, a expectativa é a de que dois candidatos do lado do governo desempenhem melhor em conjunto o papel de desgastar o candidato de oposição, seja ele quem for (e contando que o mais provável seja Serra). Foi o que aconteceu em 2002, quando Ciro e Lula reforçaram as baterias contra Serra, que era o candidato tucano. No segundo turno, ambos (Lula, vitorioso pela sigla do PT; Ciro, derrotado pelo PPS), mais o candidato derrotado do PSB, Anthony Garotinho, cerraram fileiras contra Serra e ganharam eleições dificílimas, onde o fantasma da crise econômica e da quebra do país, ao contrário de hoje, era um ônus eleitoral da oposição, não do governo.
Muita coisa vai acontecer, daqui até o início oficial da campanha, no próximo ano. Mas o PMDB, partido que os dois lados na disputa namoram, não será o único definidor das chances de um ou outro candidato. Até lá, muita crise vai rolar debaixo da ponte, e não se sabe ainda quem vai pagar o pato por ela nas urnas.