AGROTÓXICOS, UM RISCO EM NOSSA MESA.
Nas últimas décadas, diversos estudos têm demonstrado que o uso de agrotóxicos nas plantações está diretamente relacionado ao aparecimento de graves problemas de saúde em trabalhadores rurais e consumidores. Os casos decorrentes da contaminação incluem de diversos tipos de câncer a alterações no sistema hormonal e na saúde reprodutiva, entre os quais abortos espontâneos, perda de fertilidade e disfunção erétil.
Em alerta, países da Comunidade Europeia e de diversas partes do mundo têm aumentado restrições e até proibido o uso de produtos químicos nas lavouras.
É neste cenário que, na contramão da tendência mundial, o Brasil assumiu, no ano passado, o posto de maior mercado de veneno do planeta. A estimativa do Ministério da Agricultura é de que a venda de agrotóxicos movimentou US$ 7,1 bilhões(R$ 15,4 bilhões) no último ano, superando os US$ 6,6 bilhões (R$ 14,3 bilhões) do setor nos Estados Unidos. Uma liderança que, para as agências de saúde e órgãos reguladores, é desastrosa.
“Não há nada para se comemorar. Temos que ficar contentes quando conseguirmos uma produção limpa, com menos tóxicos. Do jeito que está, a conta fica para o Sistemade Saúde, com o número de intoxicações disparando, e para o Previdenciário, com casos de ausências no trabalho e incapacitação permanente. Isso sem falar nos danos ambientais”, resume Luís Cláudio Meireles, gerente-geral de toxicologia da Agência Nacional de Vigilância em Saúde (Anvisa), órgão que divulgou neste mês um estudo preocupante sobre a qualidade de verduras, frutas e legumes brasileiros. Técnicos de diferentes estados compraram amostras em supermercados aleatoriamente e fizeram análises. Em algumas culturas, como a do pimentão, a chance de o consumidor se contaminar comendo um alimento envenenado é altíssima.
Beleza envenenada em nossa mesa
“Essa amostragem ainda não é bastante significativa para dizer que o pimentão brasileiro está contaminado, mas é um indicativo. Vale para as outras culturas também. Somente com a sociedade tomando conhecimento é que as coisas vão mudar e poderemos tentar alterar esse cenário absurdo. As alternativas, como a produção de orgânicos, não são exploradas devido aos interesses do mercado”, acusa Meireles.
Um dos fatores que contribuiu para o Brasil assumir a liderança na venda de veneno é a dificuldade das agências reguladoras de barrar agrotóxicos já proibidos no exterior. As empresas fabricantes, transnacionais com faturamentos bilionários, têm retardado e até impedido reavaliações com seguidas ações na Justiça. A inércia do Governo Federal no setor, com a expansão do agronegócio em detrimento da agricultura familiar, agrava
o problema.
A tendência é o cenário piorar em 2009. A Dow, uma das principais indústrias do ramo, por exemplo, planeja um investimento de R$ 50 milhões (US$ 23 milhões) para ampliar ainda mais a produção – em 2008, só na unidade em Franco da Rocha (SP), a maior da empresa no Brasil, foram fabricadas 30 milhões de toneladas de veneno.
Por conta do nível de químicos, até produtos manufaturados brasileiros começam a enfrentar resistência no exterior. Em novembro, a Nestlé tirou do mercado dos Estados Unidos a Farinha Láctea porque ela havia sido feita com trigo brasileiro tratado com um pesticida proibido nos Estados Unidos. Os consumidores norte-americanos foram orientados a não comer o produto e foram ressarcidos.
fonte: Folha Universal