Divergências entre tradicionalistas, pentecostais e neopentecostais.


Há muitas divergências entre tradicionalistas e pentecostais, mas eles, segundo o professor, teólogo calvinista e escritor Augustus Nicodemus Gomes Lopes, ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil, se consideram "irmãos". Entretanto, os neopentecostais, de acordo com o teólogo, não são considerados "irmãos"; entenda por quê.

Para responder essa questão, Nicodemus se baseia em alguns conceitos, segundo ele: "a diferença mais importante tem haver com a questão do culto. As igrejas pentecostais históricas como a Assembleia de Deus, por exemplo, elas enfatizam muito a questão do batismo com Espírito Santo como sendo uma experiência que acontece depois da conversão, e que é marcada pelo falar em línguas. Enfatiza muito a batalha espiritual, possessão demoníaca, expulsão demônios, dão pouca enfase a educação formal e teológica dos obreiros. Então qualquer pessoa que se destaca um pouco mais já pode ser colocada como obreiro de um ponto de pregação, e essa é uma das razões pelas quais eles crescem muito. Para você ter uma ideia, a Assembleia de Deus pode abrir trabalho em qualquer lugar porque qualquer membro, se ele souber falar bem, ele já trabalha, tem seu próprio sustento. Mas uma igreja, por exemplo, como a Presbiteriana, para você organizar uma igreja, ela precisa ter um pastor formado, e a igreja precisa pagar o trabalho integral dele". 
Segundo o teólogo essa liberdade que o pastor assembleiano colabora para o rápido surgimento de outras Assembleias de Deus: "então enquanto a Assembleia organiza cinquenta igrejas, o presbiteriano organiza uma. Eles têm esse sistema, mas por um lado, uma igreja presbiteriana será mais teologicamente fundamentada. Quanto que a Assembleia, por conta do preparo do obreiro vai ser menos. Então tem diferença na liturgia. Tem diferença no sistema de governo. O pastor na igreja Assembleia é uma espécie de bispo, ele governa sozinho. Ele disciplina, ele determina, ele manda, ele muda obreiro, nas igrejas tradicionais, como batistas e presbiterianos, o pastor não manda na igreja, quem manda na igreja é a assembleia. Então é assembleia que exclui membros, que bota pastor pra fora, que troca pastor, que decide o orçamento da igreja, que diz pra onde vai o dinheiro, onde vamos abrir uma igreja, onde não vamos. Na Assembleia de Deus que decide é o pastor.  Que funciona como uma espécie de bispo, eles têm muito mais autoridade. É bom porque é rápido, não precisa reunir assembleia para resolver problema. Quando tem assembleia, tem rolo, tem discussão, tem briga. Na Assembleia não. O pastor resolve. E tá resolvido. A palavra dele é lei. É rápido. Só que nunca deve ficar na mão de um homem só. Porque se esse homem errar, quem é que vai corrigir ele. Então na igreja Batista e Presbiteriana o sistema é mais devagar, é mais complicado, mas é mais seguro. Porque o pastor não é o dono da igreja. Ele tem que responder a Assembleia". 

Outro ponto abordado pelo presbiteriano é a escatologia, também conhecida como "doutrina das últimas coisas", parte da teologia e filosofia que trata dos últimos eventos na história do mundo ou do destino final do gênero humano, comumente denominado como fim do mundo. "Tem diferença na escatologia. A Assembleia de Deus é  dispensacionalista. Ela diz que Israel é ainda o povo de Deus. Acredita em um sistema chamado de sete dispensações, que é muito complicado. Os batistas e os presbiterianos, as igrejas tradicionais, eles têm dispensacionalista, mas são menos. Eles têm uma visão mais simples do como vai ser a vinda de Cristo e assim por diante. A Assembleia de Deus há muita abertura para profecia, visões e sonhos. As igrejas tradicionais já desconfiam um pouco desse tipo de experiência, prefere ficar só com o que a Bíblia está dizendo. Mas essas diferenças podem parecer profundas, mas tanto batistas como presbiterianos, eles consideram os assembleianos como irmãos em Cristo". 

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Já em relação as neopentecostais, há muitas divergências. Tradicionalistas e pentecostais não aceitam a maneira como eles interpretam a Palavra de Deus (na maioria das vezes alegórica e sem fundamento teológico) - aplicando a chamada "teologia da prosperidade" - tendo como principal meta o retorno financeiro. "As igrejas neopentecostais  já são diferentes. As igrejas neopentecostais são focadas na questão da benção e da prosperidade. Elas são focadas na oferta de saúde, de avanço financeiro, em troca do que eles chamam de sacrifícios. Os membros da igreja podem fazer determinado sacrifício, seguir determinados rituais... Eles são sincretistas, porque eles misturaram práticas do catolicismo e do espiritismo no culto. A questão da rosa ungida, que é uma prática espírita. Objetos abençoados, cajado de Moisés, sal, copo de água em cima da televisão, são práticas que vem da religiosidade popular. Aí aparece "apóstolos", gente que se auto intitula apóstolo com autoridade absoluta sobre determinada região. Eles não têm controle da membresia, não tem escola dominical, não tem ensino bíblico ... a enfase é só na benção, prosperidade e tudo mais... por isso, as igrejas tradicionais, inclusive a Assembleia de Deus, não os considera como "irmãos". A própria Assembleia de Deus é contra essas igrejas, porque acham que elas deturparam o evangelho. Essas seriam as diferenças,"  explicou o professor Augustus Nicodemus.

Por: Washington Luiz, jornalista e teólogo.    

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