Após divulgação de vídeo, advogado quer reabrir investigação sobre morte da mãe de Bernardo.
"Há uma espécie de confissão subliminar na frase 'teu fim vai ser igual ao da tua mãe'", acredita o advogado, referindo-se a palavras ditas pela madrasta a Bernardo durante a discussão. Em 2010, Odilaine morreu dentro do consultório de Leandro Boldrini. O inquérito policial concluiu que ela se suicidou. Pouco tempo depois Boldrini se casou com Graciele.
O primeiro pedido de reabertura da investigação da morte de Odilaine foi rejeitado pelo juiz Marcos Luís Agostini, em 28 de julho deste ano. O advogado relatou que o corpo tinha lesões no antebraço direito e lábio inferior e vestígios de pólvora na mão esquerda, lembrando que a vítima era destra. O juiz entendeu que não havia fato novo que justificasse a retomada do caso. Para isso, citou a conclusão de que a mão direita segurava o revólver auxiliada pela esquerda e que as lesões no antebraço foram decorrentes de punções venosas feitas no hospital na tentativa de salvar a vida de Odilaine.
O vídeo gravado pelo casal durante a briga, em agosto do ano passado, resgatado pela perícia do celular de Leandro Boldrini e encaminhado ao processo na semana passada revela detalhes da falta de harmonia na casa do médico e faz referências que podem ajudar a Justiça a chegar a uma conclusão sobre a morte do garoto. O vídeo tem poucas imagens porque o celular ficou sob um cobertor a maior parte do tempo. Mas o áudio mostra o garoto gritando desesperadamente, soluçando, sendo repreendido pelo pai, que não ergue a voz em nenhum momento, e humilhado pela madrasta. Um dos temas do bate-boca foi a mãe do menino, Odilaine Uglione.
Nos três minutos iniciais, Bernardo grita por "socorro" pelo menos 20 vezes e pede o telefone emprestado para denunciar as agressões que dizia sofrer do pai e da madrasta. "Ah, tu quer o telefone para denunciar? Não empresto. Te vira", desdenha a madrasta. Na sequência, em outro momento da discussão, Graciele diz que não tem nada a perder e depois de ouvir o menino dizer que queria que ela morresse, complementa com a frase "vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro".
O pai, sempre com a voz em tom baixo, diz ter pena do filho e passa a fazer acusações à mãe dele. "Fico com pena de ti, tua mãe te botou no mato, rapaz, te abandonou". Diante da resposta "e tu trai ela", o médico pergunta, possivelmente se dirigindo a Graciele: "Como é que ele tem isso na cabeça?". A madrasta passa às ofensas contra Odilaine. "Ela que era vagabunda, Bernardo", afirma. "Minha mãe não era vagabunda", grita o garoto. "Eu sei que tua mãe é o máximo para ti, mas simplesmente ela te abandonou", comenta o médico, possivelmente referindo-se ao suicídio. "Ela não me abandonou", sustenta o garoto, soluçando.
Na mesma discussão, Graciele afirma: "ela (Odilaine) é que pensou em matar teu pai". O bate-boca continua e, depois de mais algumas frases dos participantes, Bernardo diz "tinha que ter matado mesmo". O médico responde "mas o que eu tenho de ver, cara, tenho de pagar com minha vida por causa de gente à toa, de gente que não presta?". O garoto mantém o tom e grita: "tomara que tu morra. E que essa coisa (Graciele) morra junto". A madrasta volta à discussão e diz "tu vai antes, doente que tu está desse jeito" e, depois de breve intervenção de Leandro Boldrini, completa: "teu fim vai ser igual ao da tua mãe".
O restante do confronto verbal tem algumas passagens em que o garoto é humilhado. "É froinha, não é capaz de falar, se fosse macho falava", provoca o médico depois de tentar fazer o filho repetir uma palavra que não entendeu e que está inaudível na gravação. Logo depois, a discussão faz referências à chegada da polícia e as palavras de Graciele dão a entender que o garoto ficou com medo e buscou algum tipo de proteção do pai.
Depois da chegada da polícia há um longo trecho de silêncio e então, com voz mais serena, todos tratam de um remédio para Bernardo. "Esse remédio aqui", diz o médico. "Tu vai me matar", reclama o garoto. "Dá sessenta gotas", sugere a madrasta. Bernardo fala então em se matar e Graciele diz "dá uma faca, Leandro".
Pelos sons da gravação, é possível deduzir que o médico e o garoto saem do quarto enquanto Graciele fica murmurando carinhos para a filha, então com menos de um ano. Ao voltar, Bernardo, aparentemente com dificuldades para falar, dirige-se à madrasta. "Meu pai me mandou pedir desculpas", diz. Boldrini intervém: "Não mandei, você sabe o que está fazendo". O garoto pede desculpas de novo e a madrasta responde "que seja a última vez".
Em abril deste ano, Bernardo foi encontrado morto em Frederico Westphalen, a 80 quilômetros da residência da família, que fica em Três Passos. O garoto tinha 11 anos. Acusados de planejamento e execução e participação no crime, Leandro, Graciele e mais os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz estão presos preventivamente e são réus do processo, que não tem data para ser julgado.
Fonte: MSN/Estadão
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