Novo retrato da biodiversidade na Amazônia.

O novo retrato da biodiversidade na Amazônia - Enquanto metade de todas as árvores da floresta pertencem a poucas espécies, há 6 mil espécies que contam com menos de 1 mil árvores; pesquisador da UENF participa de estudo publicado pela Science. A informação é do blog Ciência da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF).
Com participação da UENF, uma pesquisa de impacto mundial indica que existam cerca de 16 mil espécies de árvores na Amazônia, com um número total estimado de 400 bilhões de indivíduos para a chamada Grande Amazônia, que inclui toda a bacia e as Guianas. Mas metade de todas estas árvores pertence a uma parcela muito pequena (227 ou 0,01%) das espécies encontradas. O estudo, que conta com a participação do professor Marcelo Trindade Nascimento, do Laboratório de Ciências Ambientais (LCA) da UENF, foi publicado pela revista Science (edição de 18/10/13), um dos mais prestigiados periódicos científicos do mundo. As pesqsuisas foram lideradas pelo pesquisador Hans ter Steege, vinculado ao Naturalis Biodiversity Center, da Holanda.

Os dados apontam ocorrer na Amazônia o que os cientistas chamam de espécies hiperdominantes. De acordo com Marcelo Trindade, a comunidade científica ainda não tem explicação segura para a grande concentração de árvores em poucas espécies. Mas algumas suposições sugerem que estas espécies, chamadas hiperdominantes, devem apresentar características particulares que as tornam mais resistentes a patógenos (organismos causadores de doenças) ou a herbívoros especialistas ou ainda mais capazes de competir por recursos tais como água e nutrientes do solo. Para o pesquisador, o mais provável é que estas espécies apresentem um conjunto de características, e não uma ou outra, que as auxilie a serem abundantes em determinados habitats.

Segundo Marcelo Trindade, embora o estudo não tenha feito análise sobre o grau de devastação, ele contribui para instruir iniciativas de preservação. É que grande parte das espécies são raras e próprias de um ou de poucos habitats, não estando uniformemente distribuídos na região, e por isso podem desaparecer se parte do seu habitat for destruído.

Para o pesquisador da UENF, a pesquisa reforça o consenso quanto à necessidade de uma política articulada de preservação da Amazônia, que inclua todos os diferentes habitats da região. Isto aponta para a necessidade de uma interação de esforços entre os países por onde a Amazônia se espalha.

- Não basta um país se esforçar, pois alguns habitats raros e importantes podem ocorrer apenas em outro país – explica.

Agora o desafio é identificar que características estariam relacionadas a cada uma das espécies hiperabundantes, antevê o cientista da UENF. Ele não descarta a possibilidade de que algumas destas espécies tenham atingido a hiperdominância com o auxílio de populações humanas anteriores à chegada do europeu à região, embora este padrão de explicação se adeque mais a espécies do grupo das palmeiras, seringueiras e cacau e não a outros.

Quanto à raridade das árvores pertencentes aos 99,99% das demais espécies (as não dominantes, especialmente 6 mil espécies com populações menores do que 1 mil  indivíduos cada uma), o pesquisador explica que esse padrão já é bem conhecido para regiões tropicais e está relacionado à história evolutiva das diferentes espécies, que em geral apresentam o que os estudiosos chamam de conservação de nicho ecológico. Como a região tropical é ambientalmente heterogênea, ela permite um aporte de grande número de espécies, sendo que algumas ocorrem ou já ocorreram (e se extinguiram) em habitats específicos. Mas isto também tem um significado importante:

- Ao se destruir ou reduzir uma área de determinada vegetação, diversas espécies passam a estar ameaçadas em função desta perda de habitat. Muitas espécies raras talvez nunca cheguem a ser coletadas justamente por conta da grande perda de habitat que vivenciamos diariamente no mundo e em especial na Amazônia – conclui.
Pesquisa mobiliza 25 brasileiros: O estudo publicado pela Science envolveu especialistas de 120 instituições de todo o mundo, incluindo cerca de 25 pesquisadores brasileiros, nos quais se inclui Marcelo Trindade Nascimento, do LCA/UENF. A pesquisa analisa dados compilados a partir de 1.170 levantamentos florestais em todos os principais tipos florestais da Amazônia e é tida como a primeira estimativa de abundância, frequência e distribuição espacial em larga escala de milhares de espécies de árvores amazônicas. 

Marcelo Trindade tem se dedicado a estudos em florestas monodominantes (em que predomina uma espécie), em especial na Amazônia – particularmente a ocorrência da espécie Peltogyne gracilipes (roxinho ou pau-roxo), que só ocorre na região de Roraima, ou seja, é endêmica de lá. Seus dados e análises contribuíram para o conjunto de informações trabalhadas nas estimativas do trabalho global.

Como acentua matéria sobre a pesquisa divulgada pelo The Field Museum, de Chicago, Estados Unidos, os autores da pesquisa têm cautela em colocar muita ênfase no papel das espécies hiperdominantes. Permanecem em aberto se as hiperdominantes sozinhas são capazes de suportar a grande variedade de ecossistemas da Amazônia ou se são os outros 99% das espécies de árvores que desempenham o papel mais importante na malha de interações sem que o sistema inteiro entre em colapso.

(Por: Fúlvia D'Alessandri e Gustavo Smiderle - Ciência UENF)

Leia também:
Lobo-ibérico abatido a tiro no Gerês era única fêmea da alcateia

Postagens mais visitadas deste blog

Meu treino longão de 11,72 km: superação, foco e ritmo consistente

Conquistei a medalha virtual dos 30 km do mês no Adidas Running