Especialista diz que falta vontade política para evitar essas tragédias.

Especialistas advertem que a falta de planejamento urbano e ocupação de encostas levam à tendência de repetição do que houve na região serrana do Rio de Janeiro a outras áreas do Brasil. Para eles, o ideal é implementar sistemas de alerta para a população, recomendando a desocupação de áreas arriscadas, além do planejamento urbano de longo prazo. Segundo os especialistas, um exemplo é o adotado em países onde há ocorrências sísmicas e vulcânicas, como o Chile e Japão.
(Foto reporter Vladimir Platonov/ABr)

“A prevenção aqui tem que ser semelhante à de terremotos no Chile e à de vulcões no Japão”, afirmou o geólogo Marcelo Motta, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). “É preciso que haja continuidade nos planos de mapeamento de risco, remoção das pessoas que vivem em áreas perigosas, planejamento da ocupação urbana e execução desse planejamento.”
Sem tudo isso, outras áreas de risco em todo o país – como encostas de solo raso sobre grandes blocos rochosos, sem rede de esgoto e galerias pluviais – podem sofrer, em verões futuros, o sofrido nos últimos anos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Motta, que participa das vistorias das regiões afetadas pela chuva recente na serra fluminense, diz que há populações vivendo em áreas perigosas nas áreas sul, centro e norte da região serrana do Rio.
“[As áreas montanhosas] são como uma manteiga derretida. São perigosas, mesmo com florestas. Em áreas assim, não adianta dizer ‘moro aqui há 40 anos e nunca aconteceu nada’, porque o perigo existe”, disse Motta.
Em seguida, o geólogo Antonio Guerra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que também fez estudos na serra fluminense, alertou que a impressão é que se repete “a mesma fita [de tragédias] todos os anos”. “Mas falta vontade política para colocar em prática os conhecimentos da academia”, completou.
Guerra disse que não é necessário remover a população de todas as encostas do país. Mas, a partir do mapeamento feito nos municípios, é preciso tirar as pessoas das áreas consideradas de alto risco. Segundo ele, essas áreas têm “solo de pouca profundidade, em cima de blocos rochosos [que podem deslizar]. E muitas dessas encostas não têm galerias pluviais e rede de esgoto”. Ou seja, a água de uso humano é depositada no próprio solo, que depois fica saturado com as chuvas. Nesse cenário, o deslizamento é quase certo.
O diretor do Coppe-RJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, defendeu a criação de sistemas de alerta para avisar populações em áreas de enxurradas.
Pinguelli disse que o ideal é adotar alertas sonoros, conectados por fiação própria, que avisariam os habitantes para a iminência de temporais e deslizamentos. “Isso não é feito da noite para o dia, mas tem que começar. E é preciso aliar isso à detecção de temporais, com mais radares meteorológicos”, diz o diretor do Coppe, instituição que sugeriu formas de prevenção de desastres em Santa Catarina após as enchentes de 2008.
Mas o sistema de alerta, por si só, não resolveria o problema em zonas de alto risco, opina ele. “Para construções em encostas, não há alerta que resolva. Essas construções são derivadas da cultura brasileira de que ‘comigo nunca vai acontecer nada’.”
Guerra, que fez um projeto piloto de alerta para um bairro de Petrópolis, sob encomenda estatal, estima que alertas adaptados às necessidades de cada município custariam cerca de R$ 1 milhão, por meio de convênios com universidades, e poderiam ser preparados em até dois anos. “É um custo muito menor do que o das verbas liberadas para o atendimento de emergência.”
Apesar de alguns dos municípios serranos fluminenses terem planos de identificação de risco desde 2007, as imagens da tragédia mostravam “a ocupação humana em áreas de escoamento”, diz Elson Antonio do Nascimento, professor de engenharia civil da Universidade Federal Fluminense (UFF) que trabalha com planos de áreas de risco e encostas.
Porém, Nascimento advertiu que não vê mobilização estratégica, de longo prazo. “Os municípios têm planos municipais, mas não os implementam. As iniciativas se diluem”, ressaltou. Para Pinguelli Rosa, “muitas vezes os moradores não são avisados de que um plano identificou que eles estão em área de risco. É preciso fazer as informações chegarem à população”.




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